Como humanizar o recrutamento on-line?
Exercitar a empatia, a escuta ativa e estabelecer um vínculo são os primeiros passos para criar um ambiente seguro para as pessoas se sentirem à vontade e, assim, estabelecerem verdadeiras conexões. Apostar na comunicação inteligível também é fundamental para driblar os imprevistos dos ambientes virtuais
As restrições decorrentes da pandemia da covid-19 anteciparam muitas tendências quando o assunto é tecnologia. A necessidade do distanciamento social impossibilitou a realização de atividades presenciais e praticamente tudo migrou para o ambiente on-line, inclusive os processos de Recrutamento e Seleção.
As entrevistas virtuais, antes realizadas apenas quando as pessoas participantes estavam em outro estado ou país, por exemplo, tornaram-se a maneira padrão de recrutar.
Hoje, quase um ano e meio depois do início da pandemia, o que constatamos é que o formato de fato funciona e o recrutamento virtual chegou para ficar.
Inclusive, uma pesquisa realizada pelo LinkedIn com headhunters apontou que 70% dos entrevistados afirmaram que o recrutamento on-line se tornará o novo padrão e continuará mesmo após o fim da pandemia.
É indiscutível que os processos remotos possibilitam economia de tempo e recursos, tanto para as empresas como para as pessoas candidatas. Porém, o novo modelo trouxe à tona a necessidade de otimizar a experiência das pessoas nas entrevistas.
O ambiente virtual é bastante eficiente, mas precisamos acrescentar o fator humano para realmente sermos assertivos nas contratações.
A fórmula para um processo seletivo humanizado
Sabemos que entrevistas costumam deixar as pessoas candidatas nervosas e ansiosas, afinal uma oportunidade de emprego envolve muitas expectativas. Por isso, é importante criar condições favoráveis para que a conversa seja satisfatória para os dois lados.
Depois de muitos anos à frente de entrevistas, acreditamos que essa é uma das fórmulas para criar um processo verdadeiramente humanizado: empatia + vínculo = ambiente seguro
A partir dessas premissas, nosso objetivo é deixar as pessoas candidatas à vontade para se expressarem e serem quem elas são, dessa forma, elas tendem a mostrar verdadeiramente seu potencial em uma conversa.
Empatia: É a capacidade de se colocar no lugar do outro, entender seus anseios e necessidades. Na pandemia, entrevistamos muitas pessoas que estavam no meio de um furacão, com os filhos tendo aula em casa, obras no vizinho, cachorros latindo, sem contar na própria ansiedade que a situação estabeleceu com o medo de ficar sem emprego e ser contaminado.
Cabe a nós exercitar nossa empatia, entender o contexto da pessoa, o que ela está passando e, assim, conduzir a entrevista da melhor forma, mesmo diante das distrações.
Porém, também temos que ter a percepção de saber que, em alguns momentos, é necessário interromper e remarcar a conversa para não prejudicar justamente o desempenho dos candidatos. Por isso, acreditamos que uma máquina não consiga substituir a sensibilidade humana.
Vínculo: Ocasiões muito formais acabam intimidando as pessoas, o que pode deixá-las bastante desconfortáveis. Por isso, sabemos a importância de “quebrar o gelo”, iniciar com uma conversa informal, buscar pontos de conexão.
Sem essa identificação, a conversa não flui, fica truncada e a pessoa engessada, sem a sua espontaneidade.
Ambiente seguro: a partir do momento em que você exerce a empatia e cria um vínculo, temos então um ambiente seguro. Essa identificação deixa as pessoas confortáveis para serem elas mesmas, sem medo de qualquer julgamento ou rejeição.
Criar essa condição favorável otimiza o tempo de quem está entrevistando pois encurta o processo investigativo que ocorre nas entrevistas, desvendando se aquela pessoa é ideal para a vaga e vice-versa.
Sem contar que também cria uma relação verdadeira humana e honesta, tornando uma experiência positiva para quem participa e, também, para quem está entrevistando.
A importância de ser inteligível no ambiente remoto
Além das adversidades de comunicação que já lidamos diariamente, o trabalho remoto trouxe mais alguns fatores bastante desafiadores. A conexão de internet que cai, a instabilidade no sinal, o software que trava, o computador que começa a atualizar sozinho, entre tantos outros imprevistos.
Diante dessas possibilidades, precisamos nos munir de recursos para preservar a comunicação naquele espaço. Vemos a importância de sermos cada vez mais inteligíveis, ou seja, claros e fáceis de entender.
Algumas práticas costumam ajudar. Ao se deparar com uma conexão ruim de internet, por exemplo, precisamos falar mais pausadamente e fazer repetições constantes de palavras-chaves.
Além disso, mais que falar é preciso escutar. A escuta ativa é ter sensibilidade para ouvir, não interromper, estar atento e, assim, gerar uma relação de confiança.
Novas habilidades
Está cada vez mais claro que o momento da entrevista não se resume apenas na avaliação dos recrutadores quanto às competências técnicas e a aptidão da pessoa para determinada vaga.
Afinal, essa também é uma oportunidade de quem está participando decidir se quer trabalhar naquela organização ou não. É uma via de mão dupla, em que ambos os lados precisam tomar uma decisão.
Com essa mudança de mentalidade, nós do RH percebemos que a entrevista também é um momento de “vender” a empresa, é preciso ir além dos benefícios e visar um alinhamento claro de expectativas.
Isso fez com que a gente buscasse uma verdadeira aproximação com as áreas técnicas e, também, de negócios para obtermos mais informações sobre a posição e atuação em si.
Desta forma, conseguimos passar referências mais coesas e detalhadas para quem está no processo tomar uma decisão consciente.
Pensamos que a entrevista não deve ser vista apenas como um momento de avaliação, mas sim uma oportunidade de tomar decisões conjuntas.
Contratação de pessoas feita por pessoas
A Transformação Digital e a automatização de processos são realidades nas empresas, porém não podemos esquecer que lidamos com seres humanos.
A tecnologia é muito importante para a evolução, mas as relações são estabelecidas por pessoas. Por isso, nós recrutadores precisamos saber qual o limite para não perdermos aquilo que nos diferencia das máquinas: nossa capacidade de nos relacionar e nos conectar.
Mais que a análise de perfil e de competências, as entrevistas são verdadeiras oportunidades para criarmos vínculos. Talvez a pessoa não tenha as qualificações necessárias para aquela posição específica, porém a conexão que criamos pode ser lembrada em outras ocasiões no futuro.